sexta-feira, 18 de novembro de 2011

VAI VENDO...

- nome?
- Carlos
- Carlos de quê?
- Carlos Emanuel
- Carlos Emanuel...bacana esse nome, Carlos
- obrigado
- mas, me conta, Carlos...o que anda te incomodando?
- nada
- nada? Como assim nada?
- ué? É preciso que eu tenha algum problema para vir falar com o senhor?
- bom...não sei se posso chamar de problema, mas supõe-se que está aqui por algum motivo...
- sim, estou
- ótimo..
- por que ótimo? E se fosse um problema? Ainda assim seria ótimo para o senhor?
- não, não é isso, mas...enfim, Carlos...acho que estamos tendo uma falha na comunicação
- falha? Por que?
- porque ainda não conseguimos nos entender e...
- o senhor perguntou meu nome, certo?
- certo
- e qual é o seu?
- Como assim? Não viu na porta?
- e isso impede que me diga seu nome? Seria sensato que eu andasse com meu nome pendurado
numa placa em meu pescoço para não ter de dizê-lo mais pra ninguém?
- ok, ok, Carlos. Doutor Ricardo
- doutor Ricardo...doutor Ricardo de quê?
- Doutor Ricardo Pires
- Doutor Ricardo Pires...e o doutor faz parte do seu nome?
- Como assim? Claro que não!
- Então, não entendi porque o disse.
- Ora...porque sou um doutor em psicologia.
- sim, eu sei...
- Vamos tentar recomeçar, Carlos. Qual é sua profissão?
- psiquiatra
- psiquiatra?! Mas é um prazer! A que devo a honra de ter um doutor da psiquiatria aqui?
- sente prazer em conhecer psiquiatras, doutor?
- (risos) ah...vejo que és um grande brincalhão, doutor Carlos.
- não sou tão bom para fazer piadas ou coisa parecida, mas fico feliz em vê-lo sorrir, doutor
- (mais risos) Por que?
- porque na verdade estás rindo de si mesmo e isso é bom. Garanto que sente-se melhor em minha companhia
- sim, Carlos, sim...estou surpreso com toda essa nossa conversa...
- que bom, doutor
- não precisa me chamar de doutor, Carlos
- não preciso mais chamá-lo de doutor?
- (desfazendo o sorriso) bom...não disse que precisava me chamar assim...
- mas apresentou-se assim, não é verdade?
- sim, mas...
- logo não posso tratá-lo de outra forma. Agradeço mesmo assim. (levantando-se)
- ué? Já vai?
- sim, por que?
- bom...não sei...achei que fossemos falar sobre algo mais
- talvez numa próxima vez. Ah, sim...se precisar de mim, me ligue. Eis o meu cartão
- bombeiro hidráulico? Não disse que era psiquiatra?
- Isso muda algo entre nós, doutor? Aliás, aquele vazamento em seu banheiro está consertado, viu?
- como sabe do vazamento?
- Nos cumprimentamos ontem quando cheguei para consertá-lo, não lembra? Mas, não se preocupe com isso, doutor...
- Não é isso, Carlos, mas por que isso tudo? Por que se passar por psiquiatra?
- bom...Notei que como bombeiro hidráulico tive que voltar a chamá-lo de doutor. Façamos assim: toda sexta, no fim da tarde, paro nesse bar aqui embaixo pra tomar uma cerveja e jogar uma conversa fora. Passa lá! o doutor anda muito estressado e acho que precisa relaxar um pouco. Preciso ir agora para um outro serviço. Um abraço

2 comentários:

Juliana Soutelo disse...

Papo de maluco...rsrs...Gostei do conto, intrigante e com final inesperado...Fico feliz que tenha retomado com o blog, acho que vc tem o talento que um escritor deve ter (não estou acareciando o seu ego e nem babando ovo, pois não faço média, digo o que penso)que é prender o leitor, fazer pensar e deixar o leitor envolvido com a estória. Aproveite este momento criativo e escreva!!!!!bjokas!

Unknown disse...

prende a atenção, cativa o leitor. Muito bom mesmo!!!