segunda-feira, 5 de abril de 2010

PARECE QUE PERDEMOS AS COISAS DE FATO
QUANDO ESQUECEMOS DO MOMENTO SUBLIME
EM QUE ELAS NASCERAM

sábado, 3 de abril de 2010

UM DIA DESSES...


Não pude deixar de observar o jeito dela entrando no ônibus.

Parecia mesmo que ela estava no último corredor antes chegar à cadeira elétrica.

Ao sentar ao meu lado me pedindo licença para se sentar na janela,

Senti um peso e um ar de repudia em suas palavras.

Além de achar estranho aquela forma de falar comigo,

Resolvi ser o mais delicado possível, fechei o livro que lia com um dos dedos dentro da página em que estava e aproveitei pra dar uma leve cheirada em meu próprio braço.

Afinal, com aquela cara que ela estava eu só podia estar com algum problema.

Uma mulher de óculos, uma bolsa enorme presa bem firme em seu braço, unhas pintadas com uma cor bem fechada, sapatos de salto com alto algo em torno de 13cm no mínimo,

Cabelos bem lisos penteados desde a hora que acorda até a hora que entra no ônibus, um batom combinando com as unhas e tão escuro quanto e um perfume...

Aquele perfume me trouxe várias lembranças...Alguém já tinha usado aquela fragrância, mas quem? Quando? Apesar daquele cheiro me trazer alguém que não lembrava a cabeça, não acho que as melhores essências estão nos menores frascos e sim, num frasco que você não pode pagar pra ter.

Ri com essa minha mais nova estúpida idéia e abri o livro para ler mais algumas páginas.

Coitada! Ela sentou justamente na parte onde o sol batia firme naquele horário. Se tem uma coisa que sei é o horário em que o sol bate e em qual lado do ônibus. Tenho muita experiência nisso e nunca sento no local errado. Ela, além de parecer não ter tido outra opção mais interessante pra ter como companhia, ainda derretia ao meu lado num sol de mais ou menos 40 graus.

De repente, de sua bolsa sai um leque que pra variar combinava com seus balangandãs. Ao iniciar o processo de sacudir aquele objeto, suas pulseiras começaram a soar como um caxixi de berimbau de um capoeirista. Não tendo outra opção, ela tirou as pulseiras daquele braço e colocou-as no outro pra não me incomodar. Educação ela tinha. Ponto! Chegou minha hora de descer. Eu estava no meu destino. Ela ainda ficou no ônibus e tomou meu lugar com um fúria do sol e talvez alívio por não estar mais ao meu lado. Não sei ao certo, mas o resumo da coisa é que parece que algumas pessoas realmente não se encaixam em determinados lugares. Não sei se sofrem, mas que carregam uma bigorna no pescoço, isso carregam.