terça-feira, 19 de agosto de 2008

GRAMA NO ASFALTO

“...e não nos deixeis cair em tentação, mas livrai-nos do mal...

- Aqui o que mais tem é menina de 24 anos que já é avó...

- você vê umas meninas de no máximo 11 anos de idade e já te olhando com aquela sensualidade que incomoda...

- Rapaz, até casos de incestos a gente sabe que tem! Aliás, coisa muito normal.

- A maioria das mulheres pouco resolvem a situação dos filhos...acho mesmo que é por causa da posição do marido, medo de perdê-los...não sei

- Minha intenção aqui é com as crianças. Só elas podem salvar isso, entende? É um trabalho muito difícil, mas eu vou conseguir.

Dia 16 de agosto de 2008. Depois de uma viagem longa do Rio de Janeiro até a região norte, nem paramos direito pra comer, afinal o espetáculo aconteceria às 19h e já passava das 16h. Pensem no calor, um ginásio preparando sua estrutura para nos receber, eu montando a parte do som, outros vendo a luz...

Apesar de pequenos problemas, tudo parece ter ido bem. Várias daquelas crianças não entenderam muito o que estava acontecendo, mas no fim das contas fizemos nosso trabalho.

Um homem pergunta pra mim como podia comprar o DVD do espetáculo e eu aponto nossa secretária e grande amiga que estava resolvendo isso tudo, até porque naquele instante, eu enrolava os cabos para guardar tudo de novo.

Percebo que na verdade o homem havia comparecido com sua família. Sua mulher e três filhos sendo duas meninas e um menino. A atriz do espetáculo pega o DVD para autografá-lo depois que o homem o comprou, pergunta em nome de quem ela deve autografar e, no momento em que o homem ia responder, sua filha do meio, que tinha 10 anos e um sorriso encantador, disse:

a senhora pode pôr em nome da FAMÍLIA FELIZ

...Amém”

terça-feira, 12 de agosto de 2008

ESPELHO

Cai a noite. E com ela, César. Isso mesmo, César caiu! Bêbado, completamente sem rumo pelas ruas do centro do Rio de Janeiro. Ele nem é de beber, mas naquele dia, sabe lá Deus por quê, ele estava de porre mesmo. Ele nem é de beber.

Devia der uma duas da manhã quando resolveu sentar em uma calçada e esperar o ônibus pra sua casa. César, mora há uns 100m do local onde estava, mas no estado em que se encontrava, até que valia a pena esperar um ônibus.

Certo dia vi um homem cambaleando muito e vindo em minha direção. Eu não estava sozinho, estava com o baterista da minha banda, estávamos chegando de um ensaio. Bom, lá vem o homem. Ele pára, pedi licença, se desculpa pelo incômodo, chora um tanto enquanto fala e admiti tudo. Que era viciado, estava à beira de perder seu emprego, sua mulher não o queria mais em casa e precisava voltar pra casa depois de tanto se drogar e beber. No fim das contas, pego R$ 2,00 que tinha no fundo do bolso, entrego ao homem e quando ele ia pegar sua carteira pra mostrar seu documento e guardar o dinheiro, eu falei:
- Não precisa me mostrar nada. Sei que seu nome é David.

Naquele instante, David parou. Recobrou uma consciência que dormia e não disse qualquer coisa. Ficou pasmo.
- Minha vida não vale nada...Ninguém me quer...Estou pra perder meu emprego. Vou mesmo é pegar uma arma e fazer assaltos.
- E se uma das pessoas que for assaltar for justamente eu que estou te ajudando pela segunda vez?
- Que isso! Nunca faria isso contigo, você não, você é meu amigo.
- E como vai saber se sou eu ou mesmo um dos meus filhos que você nunca viu? Olha, David. È segunda vez que nos vemos e você estava no mesmo estado. Estou te dando mais um crédito. Você esqueceu de mim, claro, mas eu não esqueci de você. Vai nessa e vê se pára com essa besteira toda. Quero vê-lo de novo, só que em outra condição.


David vai embora e não sei se voltarei a vê-lo. Será que estará com sua arma na mão pronto para despejar toda sua fraqueza e dor em mim ou em minha família?

- É...não moro longe daqui e não vou esperar ônibus nenhum. Levantei, bati a poeira e me pus a caminhar.

segunda-feira, 4 de agosto de 2008

EFEITO DOMINÓ

- Alô?
- Alô, Márcio?
- Sim, é ele, quem ta falando?
- Oh, cara! Sou eu, César!
- OH, César, tudo bem? Desculpe, é que estou meio mal...
- Xí, rapaz, o que houve? Sua voz realmente está péssima
- É que meu pai faleceu essa noite e estou agitando tudo pro velório, enterro...enfim, né?
- Claro, claro. Pô...meu pêsames, ta? Se precisar de algo eu tô aqui...
- Beleza, eu te ligo depois.

Desligo o telefone e conto pra Sônia toda a história

- Que pena, né? Me parecia um senhor tão forte...Bom, é isso mesmo e a gente tem é que se conformar.

Que força que senti em Sônia. Fiquei mais tranqüilo.

- Alô, Rodrigo?
- Sim...César? Como é que cê ta, meu irmão? Quanto tempo!
- Pois é...rapaz, tenho uma notícia nada boa. Sabe o pai do Márcio?
- Claro! O que houve?
- Ele faleceu ontem e o Márcio tá super mal.

Ao final do papo com Rodrigo, desligo o telefone e noto que Sônia está de cabeça baixa e com o celular no ouvido e...chorando? Ela estava falando com o pai dela e fazendo um verdadeiro check up via telefone com ele.

O telefone de casa toca e é uma amiga da turma, Martha.

- Pois é, Martha, fiquei sabendo agora a pouco e estava indo pro trabalho. Fiquei num baixo astral danado.

Ouvi tudo o que Martha quis dizer e desliguei o telefone. Me abracei à Sônia
E ficamos assim uns minutos. Fomos trabalhar e nem fizemos o nosso ritual de despedida. Beijo no pescoço, arrepios, dizer gracinhas e fazer promessas noturnas...nada. Um beijo seco e tchau.

Na manhã seguinte...

Toca o telefone e Sônia vai atendê-lo. Corro em sua frente com a escova de dentes na boca, pego Sônia pelo braço e faço um sinal pra que ele não atendesse o telefone. Ela não entende, mas respeita e fica ouvindo o telefone tocar.

- Hoje, não.

domingo, 3 de agosto de 2008

A PRAIA

Um dia pisei em sua areia e percebi que era bom
depois, senti tua água, tua espuma...era bom
achei conchas quando sentei e cavei com os pés.
vi que o sol te tomava de um lado a outro e era bom

mas a praia, até mesmo a praia tem seus dias de descontrole
quando vi uma tempestade e a areia sendo sendo cravejada
por grossos pingos de chuva.
o vento desfigurava aquela imagem de antes e ela me pareceu inútil

por um instante, achei que não tinha porque uma praia passar por aquilo tudo,
mas não demorou muito e lá estava ela de novo. Mais bonita ainda, mas serena e
com uma areia plana e com o sol retomando seu espaço.
Nada melhor do que uma tempestade, pensei

naquele momento eu entendi tudo e voltei pra casa.