segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Amapá (antes)


7 dias se passaram até que chegamos ao nosso destino. Na rodoviária do Rio de Janeiro, a confusão era tamanha que meus olhos mal podiam acompanhar. Sei que meu irmão nos acompanhou em uma dessas viagens, mas não tenho realmente qualquer lembrança disso. Lembro mesmo de mim...na barco...cruzando o rio Amazonas por três dias. Os outros 4 dias foram 3 de ônibus até Belém e um dia de dormida num hotel ralé. Tem noção do que é isso?

Quando sentia sede, pedia um copo d'água e ele vinha na mão de um funcionário qualquer do barco. No último dia da viagem, resolvo descer até onde ficava a cozinha e pedi água. Na mesma hora, um homem pega um copo, abre o freezer e, sem exitar, me serve a água do fundo...do gelo derretido...sujo.

Ao chegar no Amapá, sofro um desidratação profunda...claro. Como poderia ser diferente?

tenho um pouco de medo de escrever demais e você que está lendo cansar de mim e de meus textos...

existe uma pedra chamada piçarra...quando se caminha sobre ela, mesmo que estejamos descalços, a sensação é que estamos marchando. Bom, pode-se dizer que seja isso mesmo...
chegamos a um igarapé que é um pequeno lago natural. Lindo nome, mas não sei porque chamam assim.
De um lado, uma fazenda. Do outro, mato e no meio, uma estrada de terra. O sol era escaldante...mais a frente, o nosso prêmio...o meu prêmio. Com um pouco de medo, tiro a blusa e mergulho!

- cuidado com a cobra d'água! - disse meu tio pulando logo em seguida
- cobra?!
- sim, mas fica tranquilo que ela não tem veneno...fique longe dos cantos e pronto!

ele ria do meu pânico, mas como ter medo? Era sensacional aquela sensação de liberdade que sentia. Continuamos caminhando e paramos no próximo igarapé. Havia um peixe...parecia um camarão. Sentamos numa espécie de ponte, pegamos nossas humildes varas de pescar e "tchumba"! O peixe/camarão logo morde a isca! Não peguei nada. Nem aquele danado, nem qualquer outro peixe que passou. Na volta, meu primeiro furto! Furtei um caju do cajueiro que pendia para fora da cerca da fazenda. Arrisquei correr de medo da minha atitude e lá estava meu tio rindo de mim de novo!

- calma! Pode comer seu caju tranquilo...

mais dias voltamos até àqueles igarapés...não lembro se furtei mais cajus...talvez não tenha gostado de fato...talvez preferisse mesmo o caju na garrafa. Pobre menino urbano, não? Vale comentar, que um dos igarapés era chamado de coca-cola por sua água escura demais. Nesse, confesso, não tive coragem mesmo de entrar.

passamos por feiras com pequenos jacarés pendurados...tartarugas...caranguejos...O açaí era perfeito. Gostei de cara! com farinha d'água, então? Hummm...bom demais! Costuma-se consumir depois das refeições...com ela...com carne...de qualquer jeito. Pra mim era com açúcar e farinha! Sabe como se compra? As casas têm uma bandeira vermelha na porta. Pode passar lá e comprar na hora...manteiga a gente pode comprar o quanto quiser na padaria. 20 gramas? 50? à vontade e servida num pedaço de papel manteiga devidamente embrulhado. O café da minha vó era no coador de pano e a fumaça via-se perpassando pelo raio de sol que entrava por entre as madeiras da casa. Eu catava acerola e minha tia fazia o suco...eu subia no coqueiro e descia quantos quisesse. Todas as vezes que fui com minha mãe, ficávamos quase um mês por lá com todos aqueles parentes e suas famílias...

a primeira vez que fui eu tinha 9 anos. A última vez que fui com minha mãe, tinha 19. Nesses dez anos que se passaram, acabaram com todos os igarapés. Todos...tudo virou fazenda disso, fazenda daquilo...

ainda teria muito o que contar sobre o Amapá...meu tombo de bicicleta, as várias arranhadas que tomei de um gato maluco tentando domesticá-lo (nessa eu lembro do meu irmão), meus dotes de mecânico de automóveis com um dos meus tios, o banho que tinta que tomei quando mexi na bomba sem permissão, as minhas brincadeiras com terra, o sabor terrível do coentro no feijão, a tal tartaruga que mencionei fervendo dentro da panela com água pra soltar o casco, o sabor do tamarindo, o passeio de trem até a serra do navio, o manganês que acabou...

enfim...pra dar um FIM à essa história toda, só escrevendo FIM mesmo, já que ela não tem qualquer moral ou coisa parecida. Como disse na postagem anterior, eu vou voltar.

FIM





Um comentário:

Juliana Soutelo disse...

Podre menina urbana também...lendo e sentindo aflição, lendo apreensiva...E olha que estou morando no Mato Grosso do Sul há 8 anos...Agorasatisfaça a minha curiosidade, preencha a lacuna que ficou na minha cabeça: vc comeu tartaruga?