segunda-feira, 28 de março de 2016

JOGO DE CONTOS II

- vamos chegar mais perto daquele ali, ó. - disse o menino numa maca para outro menino.
- eu também quero que me levem lá perto, mas a gente não consegue correr...
- mas eu quero ver!
- sim, mas o que podemos fazer?
- vamos pedir ajuda pra alguém antes que ele vá embora
- o que acha que pode ser?
- sei lá, mas parece um cavalo.
- mas como pode ser um cavalo? Ele está caído?
- psiu - fez o menino mais novo. - deve estar dormindo. Vamos chegar devagar
- mas a gente não consegue ir lá, lembra?
- vamos gritar? Eiiii
- Eiii! olá! alguém pode nos ajudar?

A poeira se levanta e outras pessoas aparecem um tanto desnorteadas.

O menino mais novo se espanta ao ver o balanço balançar sozinho

- olha! Será que alguma criança acabou de sair de lá? Eiii!

A poeira baixa um pouco e vozes se confundem em meio a muitas pessoas.

- tem gente machucada...
- olha! tem mesmo. O que será que houve?
- preciso ir ver!
- Mas...

O menino mais novo se levanta e corre em direção ao que se passava sem mesmo notar o quanto conseguia correr. A medida que ele corria, todas as pessoas iam se curando e se levantando. Ele olhava atônito, mas continuava em sua busca.

Ao chegar perto do cavalo ele nota que o bicho não se levanta e que continua ali caído. O menino o segura pelo longo pescoço, o levanta, limpa a sujeira dos seus olhos e brinca como quem lhe dá vida.

Os dois correm juntos alegres, o menino e seu cavalo branco de brinquedo.

Nos jornais, pouco se fala sobre aquele acidente.
JOGO DE CONTOS

o senhor não pode entrar aí! - escutei

num movimento rápido, abri a porta e entrei.

levei um susto ao ver várias cabeças penduradas no teto. O silêncio era perturbador
tive vontade de correr, sair, mas a curiosidade era tamanha que fiquei.
passei entre as cabeças. Todas alinhadas e de vários tipos. Não pareciam ter sofrido.
respiro fundo e noto que sequer minha respiração eu ouvia. Disse:
- olá
nada...um medo me bateu e pensei estar surdo. Completamente surdo.
Apavorado, corro até a porta e leio:

agora, escolha a sua.

confuso, percebi que a porta não abria. Levei as mãos ao rosto e sinto algo bater no meu pé. Era uma cabeça que rolara. Não sei ao certo. Me abaixo, seguro a cabeça e digo:
- olá.
A boca da cabeça se mexe, ouço minha voz e deixo que ela caia sem querer! Ao bater no chão, senti que a minha cabeça doeu e toco minha testa.
- Onde está minha cabeça???? gritei sem ouvir
olhei para a porta e li:

o medo nos condena

outra cabeça rola e, um pouco mais calmo, eu a pego do chão
eu digo:
- onde é a saída? - nada além de repetir o que eu disse aconteceu. Dessa vez, com sentimento de raiva, pego a cabeça e tento coloca-la no lugar. Devolvo. Uma espécie de gancho.
na porta lia-se:

nós fazemos as escolhas

Nós quem??? pensei desesperado! Vocês ou eu?
dessa vez, nada rolou até meu pés. Tentei me acalmar e pensei em tocar minha cabeça. Acho que nunca havia feito aquilo com tanto cuidado. Passei a mão pelos olhos...nariz...boca...cabelos....assim, passando a mão por todas as partes, noto que uma delas me sorri de leve.
seguro-a com cuidado e faço menção do coloca-la sobre a minha. Os olhos me disseram na porta:

acalma a tua visão e ela te será dada

fechei os olhos. Uma voz me disse:
- abra a porta
fiz sem abrir os olhos e reparei que ela abria para o outro lado.
ao abri-la, vi sentada uma mulher que me pergunta:
- o senhor por acaso viu um homem entrar nesta sala?
- não, eu disse -  e olhei para dentro da sala.
era minha cabeça que sorria pendurada.