segunda-feira, 21 de novembro de 2011

JURO QUE É VERDADE (21/11/2011)


a senhora cutucou o o senhor que jogou papel pela janela do ônibus...
o motorista disse que acha um saco quando os passageiros perguntam
se esse ônibus passa aqui ou acolá e que melhor seria se houvesse uma parede separando-os...
uma mulher fez sinal no ponto e, insatisfeita com a demora flash, esmurrou a porta...
um homem toma a sua dor e grita: Pára de papo e abre a porta, porra!!!...
o trocador, mais que depressa se levanta, pergunta quem xingou e diz:
- foi você quem xingou? - mirando pra um rapaz que estava com outros 3 no fundo do ônibus...
- não
- peixe morre pela boca e se gosta de xingar, me avisa que te boto pra fora agora!
- não gritei
- tá querendo bagunçar nosso trabalho, seu viado?
- eu, hein...hãm...falei nada...
o homem que gritou, nem se manifestou...
alguém escutava o celular nas alturas...
o sol estuprava o coletivo e os ânimos...
o trocador batucava e cantarolava um pagode na caixa de dinheiro...
o tal do motorista que detesta ser importunado, não parava de falar com uma passageira...
ela desceu, o trocador dormiu, os 4 rapazes desceram olhando o trocador e o motorista calou-se...
eu respirei aliviado, agradeci à Deus estar chegando e desci em seguida.
pobre de mim...pobre de todos nós.
aliás, que fique bem claro, pessoal! Não reclamem se um meteoro cair aqui e levar todos embora
com a vida que a gente leva, acho que não seria má idéia!

Amapá (antes)


7 dias se passaram até que chegamos ao nosso destino. Na rodoviária do Rio de Janeiro, a confusão era tamanha que meus olhos mal podiam acompanhar. Sei que meu irmão nos acompanhou em uma dessas viagens, mas não tenho realmente qualquer lembrança disso. Lembro mesmo de mim...na barco...cruzando o rio Amazonas por três dias. Os outros 4 dias foram 3 de ônibus até Belém e um dia de dormida num hotel ralé. Tem noção do que é isso?

Quando sentia sede, pedia um copo d'água e ele vinha na mão de um funcionário qualquer do barco. No último dia da viagem, resolvo descer até onde ficava a cozinha e pedi água. Na mesma hora, um homem pega um copo, abre o freezer e, sem exitar, me serve a água do fundo...do gelo derretido...sujo.

Ao chegar no Amapá, sofro um desidratação profunda...claro. Como poderia ser diferente?

tenho um pouco de medo de escrever demais e você que está lendo cansar de mim e de meus textos...

existe uma pedra chamada piçarra...quando se caminha sobre ela, mesmo que estejamos descalços, a sensação é que estamos marchando. Bom, pode-se dizer que seja isso mesmo...
chegamos a um igarapé que é um pequeno lago natural. Lindo nome, mas não sei porque chamam assim.
De um lado, uma fazenda. Do outro, mato e no meio, uma estrada de terra. O sol era escaldante...mais a frente, o nosso prêmio...o meu prêmio. Com um pouco de medo, tiro a blusa e mergulho!

- cuidado com a cobra d'água! - disse meu tio pulando logo em seguida
- cobra?!
- sim, mas fica tranquilo que ela não tem veneno...fique longe dos cantos e pronto!

ele ria do meu pânico, mas como ter medo? Era sensacional aquela sensação de liberdade que sentia. Continuamos caminhando e paramos no próximo igarapé. Havia um peixe...parecia um camarão. Sentamos numa espécie de ponte, pegamos nossas humildes varas de pescar e "tchumba"! O peixe/camarão logo morde a isca! Não peguei nada. Nem aquele danado, nem qualquer outro peixe que passou. Na volta, meu primeiro furto! Furtei um caju do cajueiro que pendia para fora da cerca da fazenda. Arrisquei correr de medo da minha atitude e lá estava meu tio rindo de mim de novo!

- calma! Pode comer seu caju tranquilo...

mais dias voltamos até àqueles igarapés...não lembro se furtei mais cajus...talvez não tenha gostado de fato...talvez preferisse mesmo o caju na garrafa. Pobre menino urbano, não? Vale comentar, que um dos igarapés era chamado de coca-cola por sua água escura demais. Nesse, confesso, não tive coragem mesmo de entrar.

passamos por feiras com pequenos jacarés pendurados...tartarugas...caranguejos...O açaí era perfeito. Gostei de cara! com farinha d'água, então? Hummm...bom demais! Costuma-se consumir depois das refeições...com ela...com carne...de qualquer jeito. Pra mim era com açúcar e farinha! Sabe como se compra? As casas têm uma bandeira vermelha na porta. Pode passar lá e comprar na hora...manteiga a gente pode comprar o quanto quiser na padaria. 20 gramas? 50? à vontade e servida num pedaço de papel manteiga devidamente embrulhado. O café da minha vó era no coador de pano e a fumaça via-se perpassando pelo raio de sol que entrava por entre as madeiras da casa. Eu catava acerola e minha tia fazia o suco...eu subia no coqueiro e descia quantos quisesse. Todas as vezes que fui com minha mãe, ficávamos quase um mês por lá com todos aqueles parentes e suas famílias...

a primeira vez que fui eu tinha 9 anos. A última vez que fui com minha mãe, tinha 19. Nesses dez anos que se passaram, acabaram com todos os igarapés. Todos...tudo virou fazenda disso, fazenda daquilo...

ainda teria muito o que contar sobre o Amapá...meu tombo de bicicleta, as várias arranhadas que tomei de um gato maluco tentando domesticá-lo (nessa eu lembro do meu irmão), meus dotes de mecânico de automóveis com um dos meus tios, o banho que tinta que tomei quando mexi na bomba sem permissão, as minhas brincadeiras com terra, o sabor terrível do coentro no feijão, a tal tartaruga que mencionei fervendo dentro da panela com água pra soltar o casco, o sabor do tamarindo, o passeio de trem até a serra do navio, o manganês que acabou...

enfim...pra dar um FIM à essa história toda, só escrevendo FIM mesmo, já que ela não tem qualquer moral ou coisa parecida. Como disse na postagem anterior, eu vou voltar.

FIM





sexta-feira, 18 de novembro de 2011

VAI VENDO...

- nome?
- Carlos
- Carlos de quê?
- Carlos Emanuel
- Carlos Emanuel...bacana esse nome, Carlos
- obrigado
- mas, me conta, Carlos...o que anda te incomodando?
- nada
- nada? Como assim nada?
- ué? É preciso que eu tenha algum problema para vir falar com o senhor?
- bom...não sei se posso chamar de problema, mas supõe-se que está aqui por algum motivo...
- sim, estou
- ótimo..
- por que ótimo? E se fosse um problema? Ainda assim seria ótimo para o senhor?
- não, não é isso, mas...enfim, Carlos...acho que estamos tendo uma falha na comunicação
- falha? Por que?
- porque ainda não conseguimos nos entender e...
- o senhor perguntou meu nome, certo?
- certo
- e qual é o seu?
- Como assim? Não viu na porta?
- e isso impede que me diga seu nome? Seria sensato que eu andasse com meu nome pendurado
numa placa em meu pescoço para não ter de dizê-lo mais pra ninguém?
- ok, ok, Carlos. Doutor Ricardo
- doutor Ricardo...doutor Ricardo de quê?
- Doutor Ricardo Pires
- Doutor Ricardo Pires...e o doutor faz parte do seu nome?
- Como assim? Claro que não!
- Então, não entendi porque o disse.
- Ora...porque sou um doutor em psicologia.
- sim, eu sei...
- Vamos tentar recomeçar, Carlos. Qual é sua profissão?
- psiquiatra
- psiquiatra?! Mas é um prazer! A que devo a honra de ter um doutor da psiquiatria aqui?
- sente prazer em conhecer psiquiatras, doutor?
- (risos) ah...vejo que és um grande brincalhão, doutor Carlos.
- não sou tão bom para fazer piadas ou coisa parecida, mas fico feliz em vê-lo sorrir, doutor
- (mais risos) Por que?
- porque na verdade estás rindo de si mesmo e isso é bom. Garanto que sente-se melhor em minha companhia
- sim, Carlos, sim...estou surpreso com toda essa nossa conversa...
- que bom, doutor
- não precisa me chamar de doutor, Carlos
- não preciso mais chamá-lo de doutor?
- (desfazendo o sorriso) bom...não disse que precisava me chamar assim...
- mas apresentou-se assim, não é verdade?
- sim, mas...
- logo não posso tratá-lo de outra forma. Agradeço mesmo assim. (levantando-se)
- ué? Já vai?
- sim, por que?
- bom...não sei...achei que fossemos falar sobre algo mais
- talvez numa próxima vez. Ah, sim...se precisar de mim, me ligue. Eis o meu cartão
- bombeiro hidráulico? Não disse que era psiquiatra?
- Isso muda algo entre nós, doutor? Aliás, aquele vazamento em seu banheiro está consertado, viu?
- como sabe do vazamento?
- Nos cumprimentamos ontem quando cheguei para consertá-lo, não lembra? Mas, não se preocupe com isso, doutor...
- Não é isso, Carlos, mas por que isso tudo? Por que se passar por psiquiatra?
- bom...Notei que como bombeiro hidráulico tive que voltar a chamá-lo de doutor. Façamos assim: toda sexta, no fim da tarde, paro nesse bar aqui embaixo pra tomar uma cerveja e jogar uma conversa fora. Passa lá! o doutor anda muito estressado e acho que precisa relaxar um pouco. Preciso ir agora para um outro serviço. Um abraço

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

PARÁBOLA DOS OLHOS VENDADOS

O pai perguntou pra filha se podia vendar-lhe os olhos numa brincadeira de adivinhações.

- consegue me dizer que fruta é essa?
- Essa fruta não tem cheiro, pai! - Exclamou a filha em tom sem paciência.

- cheire esta.
- Maça, claro.
- correto!

em seguida, o pai novamente pega a pera e pergunta?

- que fruta é essa?
- não sei...não tem cheiro de nada
- certo...e essa?
- abacaxi! Muito fácil
- essa eu duvido que você acerte!
- hummm...manga!
- muito bom! E que tal essa?
- Sem essa, pai! Não tem fruta na minha frente, tá?!

O pai pega a pera, corta e diz:

- e agora?
- hummm...pera?
- sim...
- viu?! o tempo todo você estava brincando comigo fingindo que estava colocando a pera para eu cheirar! - disse a menina tirando a venda dos olhos, agora mais impaciente.

- Desculpe, filha...acho que devia ter cortado a pera antes...assim você acertaria tudo e tudo ficaria mais fácill, não é mesmo?
- cortado? Você cortou a pera?
- sim...e só depois disso você me mostrou de novo?
- Isso mesmo. Você foi bem...

Num surto de consciência e remorso, a filha diz:

- pai. Fui injusta...te acusei sem razão...desculpa.
- você tem razão. Numa simples brincadeira você ficou nervosa, anulou sua sensibilidade e quase desistiu e ainda me acusou sem antes ter certeza do que eu havia feito. Te amo...e por isso mesmo te digo. Nas brincadeiras a gente aprende muito para a vida. Sim, eu te desculpo...mas cuidado, porque nem sempre a gente tem uma segunda chance, entendeu?

- pode deixar, pai...posso comer a pera?
- você gosta de peras?
- sim, gosto muito...
- Agora você já a conhece por dentro, né? Precisei cortá-la pra que você a percebesse.
- (risos)...é verdade. Te amo, pai
- Também te amo, filha.

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Amapá

estávamos bebendo cerveja...
não me pergunte a hora. Lembro que estava com meus primos, no tal Amapá desconhecido...
ficou difícil de lembrar de tudo depois de 14 anos sem pisar lá...14 anos se passaram e pra onde?
não era essa a questão...a questão era que estávamos bebendo cerveja. O que mais quer saber?
Se estava gelada? Sim, estava...
Na nossa frente, um carro velho que nos levava para cima e para baixo dobrando as esquinas, anunciando chegadas nas casas dos velhos amigos e parentes. O calor era forte dentro do carro, mas pelo menos estava fazendo meus olhos buscarem imagens.
A sorveteria...o sorvete de cupuaçú que misturei com as cervejas.

...

de volta à casa, de frente pro carro, o prazer de beber, de estar à vontade o tempo todo...as bicicletas...os estudantes e suas caminhadas e risos...o cumprimento dos vizinhos de sempre e suas piadas de sempre. Dava pra notar que eram as mesmas piadas...eu ria
O sol eu não via se pôr, mas via seus raios por entre as casas baixas e comércios. O calor ficava mais ameno à medida que bebíamos...à medida que anoitecia...à medida que esquecíamos e ríamos de qualquer coisa do passado. Tudo estava ao meu redor:
a bebida
a alegria
a doença
o prazer
a simplicidade
o novo
o de novo
os nascidos
os crescidos
as lágrimas...

da borracha ligada à torneira dentro de casa, saía a água morna da caixa d´água na laje que molhava nossos pés na varanda. a cerveja estava gelada, a conversa era longa, mas era hora de voltar pra minha Cidade.

não sei quantos anos se passarão até que eu volte lá, mas eu vou voltar

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

...

O fato de gostar muito de um livro que lemos, não quer dizer que seu escritor seja um ótimo ser humano. Que o fato de estarmos com alguém, essa seja a pessoa perfeita. Meu ídolo é qualquer um que faça ou fale algo que eu, seja por vaidade ou covardia, não faça. Aprender, aceitar e compartilhar.