terça-feira, 30 de junho de 2009

COISAS DA VIDA

Já passava das 6h da manhã quando passaram pela porta da casa de Tadeu numa rua de Santa Teresa no Rio de Janeiro. Era uma carona de seu amigo Cléber e eles voltavam de uma apresentação num bar na Barra da Tijuca, bairro, aliás, bem distante dali. Tadeu é músico. Violonista e dotado de uma voz aveludada conseguia ainda ganhar seu dinheiro tocando na noite nesse bar onde se pagava bem pros dias de hoje. No carro estavam: Lúcia, mulher de Cléber e Clara irmã de Lúcia, além de Tadeu e Cléber dirigindo. Casado, pai de uma adolescente de 17 anos e ele com 42 anos.

Bom, já passava das 6h como disse antes e, ao entrarem na rua onde Tadeu mora, passaram direto pela porta da casa e quem estava justamente do lado de fora em pé era a mulher de Tadeu, Fátima. Tadeu viu que Fátima olhou pra dentro do carro e ficou pasma ao ver dois casais sendo Tadeu atrás ao lado de Clara e na frente Cléber e Lúcia. Fátima não conhecia aquelas pessoas, afinal, Tadeu os conheceu lá mesmo no bar e ficaram amigos depois de tantos encontros pra tomarem um choppinho vendo Tadeu cantando.

- Opa, me distraí e passamos da minha casa!
- Xi, Tadeu, desculpa. Você nem disse onde era e fui direto. Peraí que vou retornar...
- Não. Não! Pode seguir em frente que fico aqui e volto um pouco.
- Tem certeza? Te deixo lá
- Que nada, Cléber. Já me deu a maior ajuda me trazendo em casa. Fica na boa, ok? Brigadão mesmo
- Que isso. Artista a gente tem que tratar bem

Tadeu deu uma risada meio sem graça, agradeceu e saiu. Quando chega em casa vê Fátima transtornada e de braços cruzados, talvez esperando que ele falasse algo.

- Que cara é essa, amor?

Fátima dá um sorriso trêmulo de lado, olha na cara de Tadeu e diz:

- Que cara é essa? Tem certeza que tem que perguntar isso?

De repente, toca a campainha da casa e Fátima vai até o portão.

- Oi, me desculpe, mas é que o Tadeu esqueceu o casaco dele no carro. Entrega pra ele? Perguntou gentilmente, Lúcia.

Fátima quase arranca o casaco da mão de Lúcia, agradece com um tom seco e fecha a porta.
Com o casaco dele na mão e depois de ter visto Lúcia, mulher da zona sul e com cara de quem acabou de sair de casa, diz:

- Fala, seu canalha! Argumenta! Mente!!! Conta uma história triste com a cara mais deslavada.

Tadeu parou...pensou....e não disse palavra. Falar o quê?

- Suruba! Isso, sim! Você estava numa suruba, chega de carro, acompanhado da sua puta no banco de trás e ainda esquece o casaco que ela trouxe na minha porta com a cara mais deslavada! Fala alguma coisa, Tadeu!

Fátima joga com toda força o casaco na cara de Tadeu e vai pro quarto.

Alguns dias depois dessa situação, Fátima diz a Tadeu que não faz mais sentido ficarem juntos e que ele saísse da casa, fosse pra casa de um amigo ou para a casa de qualquer amante dele.

- Jonas?
- Eu
- É o Tadeu, beleza?
- Beleza, irmão. Ta onde?
- Cara, estou no bar do Bira aqui na praça. Pode vir aqui? Estou precisando mesmo conversar.
- Claro, cara. Chego já aí. Estou de bobeira mesmo

Jonas mora no bairro do Catete, bem perto de Santa Teresa e Tadeu não tinha a menor pressa. Quando Jonas chega, Tadeu conta tudo pra ele. Sem tirar nem pôr.

- Pô, cara...que merda, hein?
- Pois é. O casamento já estava meio estranho mesmo, mas...
- E o cara?
- Que cara?
- Oh, irmão...achei que soubesse...
- Ta falando de quê, Jonas?
- Cara. Vi Fátima com um malandro que devia ter uns 25 anos, aos beijos mesmo. Na hora achei loucura minha ainda mais com um cara tão novo, mas depois vi que era ela mesmo. Fiquei confuso e tal...estava sem seu telefone novo e não quis me meter. Mas também...isso faz um tempinho
- O quê? Como assim tempinho?
- Uns 6 meses mais ou menos.
- Um rapaz com cara de 25 anos e minha mulher com 45? Cacete...

O mundo de Tadeu desabou na cabeça dele.

- Desculpa, Tadeu. Achei até que vocês tinham dado um tempo...sei lá
- Não se preocupe, Jonas...preciso pensar um pouco e...Ainda tenho que tocar no fim de semana. Vou nessa.

Um mês depois, a filha de Tadeu de 17 anos, se envolveu num relacionamento louco com o rapaz, amante de Fátima, que acabou descobrindo pouco tempo depois expulsando o cara de sua casa sob ameaça de chamar a polícia, afinal, ele tinha 22 anos.

No mesmo fim de semana do ocorrido, Tadeu está tocando na Barra e vê seus três amigos daquele dia chegarem no bar. Ele os cumprimenta com os olhos enquanto canta e espera um intervalo.
Sentou-se à mesa deles e reparou um pouco mais em Clara que era linda. Nunca a tinha visto desse jeito e ainda tinha umas doses do whisky pra ajudar no clima. No fim de mais uma noite e com Cléber e Lúcia indo ao banco 24h, Tadeu e Clara se viram tomados por uma força estranha e...um beijo. Um beijo de adolescente. Primeiro beijo. Línguas trêmulas e sedentas. Um beijo digno de platéia mesmo. No fim do beijo os dois se olham, ela acaricia o rosto dele e ele retribui.

- Vamos? Diz Cléber
- Claro, vamos. Diz Tadeu

Vão até o carro e, quando chegam na porta traseira, Tadeu se oferece pra ajudar Clara. Pega-a gentilmente no colo, a coloca sentada no banco, fecha sua cadeira de rodas e a coloca no porta malas.